domingo, 4 de dezembro de 2016

O Passe

Autor José Herculano Pires

I — Suas origens, aplicações e efeitos

O passe espírita é simplesmente a imposição das mãos, usada e ensinada por Jesus como se vê nos Evangelhos. Origina-se das práticas de cura do Cristianismo Primitivo. Sua fonte humana e divina são as mãos de Jesus. Mas há um passado histórico que não podemos esquecer. Desde as origens da vida humana na terra encontramos os ritos de aplicação dos passes, não raro acompanhados de rituais, como sopro, a fricção das mãos, a aplicação de saliva e até mesmo (resíduo do rito do barro), a mistura de saliva e terra para aplicação no doente. No próprio Evangelho vamos a descrição da cura de um cego por Jesus usando essa mistura. Mas Jesus agiu sempre, em seus atos e em suas práticas, de maneira que essas descrições, feitas entre quarenta e oitenta anos após a sua morte, podem ser apenas influência de costumes religiosos da época. Todo o seu ensino visava afastar os homens das superstições vigentes no tempo. Essas incoerências históricas, como advertiu Kardec, não podem provir dele, mas dos evangelistas. Caso, contrário, Jesus teria procedido de maneira incoerente no tocante aos seus ensinos e seus exemplos, o que seria absurdo.
O passe espírita não comporta as encenações e gesticulações em que hoje envolveram alguns teóricos improvisados, geralmente ligados a antigas correntes espiritualistas de origem mágica ou feiticista. Todo o poder e toda a eficácia do passe espírita dependem do espírito e não da matéria, da assistência espiritual do médium passista e não dele mesmo. Os passes padronizados e classificados derivam de teorias e práticas mesméricas, magnéticas e hipnóticas de um passado já há muito superado. Os espíritos realmente elevados não aprovam nem ensinam essas coisas, mas à prece e a imposição das mãos. Toda a beleza espiritual do passe espírita, que provém da fé racional no poder espiritual, desaparece ante as ginásticas pretensiosas e ridículas gesticulações.
As encenações preparatórias: mãos erguidas ao alto e abertas, para suposta captação de fluidos pelo passista, mãos abertas sobre os joelhos, pelo paciente, para melhor assimilação fluídica, braços e pernas descruzados para não impedir a livre passagem dos fluidos, e assim por diante, só serve para ridicularizar o passe, o passista e o paciente. A formação das chamadas pilhas mediúnicas, com o ajuntamento de médiuns em torno do paciente, as correntes de mãos dadas ou de dedos se tocando sobre a mesa – condenadas por Kardec – nada mais são do que resíduos do mesmerismo do século passado, inúteis, supersticiosos e ridicularizantes.
Todas essas tolices decorrem essencialmente do apego humano às formas de atividades materiais. Julgamo-nos capazes de fazer o que não nos cabe fazer. Queremos dirigir, orientar os fluidos espirituais como se fossem correntes elétricas e manipulá-los como se a sua aplicação dependesse de nós. O passista espírita consciente, conhecedor da doutrina e suficientemente humilde para compreender que ele pouco sabe a respeito dos fluidos espirituais – e o que pensa saber é simples pretensão orgulhosa – limita-se à função mediúnica de intermediário. Se pede a assistência dos Espíritos, com que direito se coloca depois no lugar deles? Muitas vezes os Espíritos recomendam que não se façam movimentos com as mãos e os braços para não atrapalhar os passes. Ou confiamos na ação dos Espíritos ou não confiamos e neste caso é melhor não os incomodarmos com os nossos pedidos.

O passe espírita é prece, concentração e doação. Quem reconhece que não pode dar de si mesmo, suplica a doação dos Espíritos. São eles que socorrem aqueles por quem pedimos, não nós, que em tudo dependemos da assistência espiritual.

William Crookes


Hernâni Guimarães Andrade

«Revista de Espiritismo» nr. 35, Julho-Agosto-Setembro 1997

Foi muito a propósito que Charles Richet deu por iniciado com William Crookes, em 1872, o período científico da metapsíquica, hoje parapsicologia. Possivelmente, nenhum cientista que se atreveu a estudar com afinco os fenómenos objectivos da parapsicologia foi tão controvertido quanto William Crookes.
Nenhum levantou tanta celeuma em torno de suas afirmações acerca dos fenómenos que observou; nenhum teve a sua reputação tão atacada; e nenhum foi tão firmemente honesto em suas convicções científicas quanto ele.
Agora, após mais de um século, a extraordinária figura de William Crookes emerge límpida e majestosa, desafiando serenamente aqueles que ainda tentam, em vão, enlamear-lhe a imagem. A obra deste sábio extraordinário tem resistido aos embates do tempo e aos ataques mesquinhos de seus adversários gratuitos, unicamente porque é toda ela, límpida e cristalinamente apoiada sobre uma granítica base de factos. Quem estuda, sem má-fé e sem preconceitos, os trabalhos de William Crookes, impressiona-se pela pureza, simplicidade e clareza meridiana de seus relatórios. Dos seus trabalhos, transpiram a sinceridade, a firme convicção e a serenidade de um sábio que tranquilamente proclama a verdade, sem inquietar-se com o julgamento dos demais, por achar-se seguro de que o erro está com aqueles que negam a evidência dos factos.

O homem

Vamos extrair os seus dados biográficos da excelente Encyclopaedia of Psychic Science, de Nandor Fodor (USA: University Books, 1974).
Sir William Crookes (1832-1919) pode ser considerado um dos mais proeminentes físicos do século XIX. Em 1863 foi eleito membro da Royal Society. Obteve as seguintes láureas: a Royal Gold Medal, em 1875; a David Medal em 1888; a Sir Joseph Copley Medal em 1904; foi nomeado cavaleiro em 1897, pela rainha Vitória; e, em 1910, ganhou a Ordem de Mérito. Foi presidente das seguintes instituições: Royal Society, Chemical Society, Institution of Electrical Engineers, British Association e Society for Psychical Research. No campo das pesquisas científicas Crookes é conhecido como o descobridor do elemento químico de número atómico 81, o Tálio; do Radiómetro; do Espintariscópio; do tubo de raios catódicos, mais conhecido como Tubo de Crookes, etc.
Na área da divulgação científica, ele foi fundador do Chemical News, em 1859, e editor do Quarterly Journal of Science, em 1864. Em 1880, recebeu uma medalha de ouro e o prémio de 3.000 francos, da Academia de Ciências da França.
Na ocasião em que William Crookes passou a interessar-se pelos fenómenos paranormais, houve uma grande expectativa em torno dessa decisão, por parte do grande público. Seu nome era por demais conhecido nos meios científicos, e o seu veredicto seria, naturalmente, aceite como decisivo julgamento do movimento então chamado «Spiritualism».

Primeiros contactos

Certamente, William Crookes devia achar-se a par da repercussão nada favorável, na imprensa, do relatório da «London Dialectical Society». Pairava no ar uma certa hostilidade surda contra o «Spiritualism». A má vontade com relação a este movimento era evidente, especialmente por parte da imprensa e do meio científico. Se Crookes se decidiu a sondar tão perigoso terreno, é porque naturalmente confiava no método científico positivo, com o qual se achava tão familiarizado. O seu interesse despertou, após ter assistido a uma sessão com a médium Mary Marshall (1842-1884), em Julho de 1869. Esta médium foi também iniciadora do Dr. Alfred Russel Wallace, na investigação dos fenómenos paranormais. Os fenómenos eram banais: «raps», movimentos e levitação de uma mesa, nós dados em lenços, escrita directa em lousas, etc. A partir de 1867, ela produziu sessões de voz directa, nas quais se manifestava o famoso espírito John King.
Em Dezembro de 1869, Crookes assistiu às sessões do célebre sensitivo J. J. Morse (1848-1919), o mais extraordinário médium psicofónico daquela época, o qual o impressionou bastante. Em Julho de 1870, depois que Henry Slade chegou a Londres, ele anunciou sua decisão de investigar seriamente os fenómenos espíritas. Publicou, então, no Quarterly Journal of Science um artigo intitulado: «Spiritualism Viewed by the Light of Modern Science» (O «Spiritualism» visto à Luz da Moderna Ciência). São suas as palavras neste artigo: «Modos de ver ou opiniões não posso dizer que possuo sobre um assunto que eu não tenho a presunção de entender.» A seguir, ele acrescentou: «Prefiro entrar na investigação, sem noções preconcebidas sejam quais forem, como do que possa ou não ser, mas com todos os meus sentidos alerta e prontos para transmitirem a informação ao cérebro; acreditando, como creio, que não temos, de nenhuma maneira, esgotado todo o conhecimento humano ou examinado as profundezas de todas as forças físicas». Segundo ele, tais investigações foram-lhe sugeridas «por um eminente homem que exercia grande influência no pensamento do país». Finalmente, a derradeira sentença: «O crescente emprego dos métodos científicos produzirá uma geração de observadores que lançará o resíduo imprestável do «Spiritualism», de uma vez por todas, ao limbo desconhecido da magia e da necromância».
Tal anúncio foi recebido com especial júbilo pela imprensa. Havia uma expectativa geral de que, desta vez, o «Spiritualism» iria ter sua correcta avaliação. Em suma, seria colocado em sua exacta posição e avaliado em suas devidas proporções, isto é, não receberia nenhuma aprovação. Após submetido ao escalpelo do método científico, tudo não passaria de fraude, logro e imposturice.
É um fenómeno difícil de explicar exactamente essa aversão contra os factos do Spiritualism. Talvez se deva isso, em parte, à influência da Filosofia Positivista, que, naquela época, se difundira pelas elites culturais da Europa. Sabe-se que o relatório da London Dialectical Society, de 20 de Julho de 1870, já tivera péssima recepção por parte da imprensa e também por grande fracção dos intelectuais de então. E deve frisar-se que a sua comissão, composta de 33 membros, era formada por homens ilustres, conforme mostraremos em artigo posterior. A única explicação para tal reacção, seria o facto de a comissão ter concluído que os fenómenos do Spiritualism** eram reais.

As investigações

Entre 1869 e 1875, Crookes levou a efeito um número enorme de sessões com os mais variados médiuns; as de maior importância, no seu próprio laboratório pessoal. São cinco os seus principais grupos de experiências com os médiuns mais qualificados e por ordem cronológica: Daniel Dunglas Home, Kate Fox, Charles Edward Williams, Florence Cook e Annie Eva Fay. Além desses, ele teve experiências esparsas com os seguintes médiuns: mrs. Marshall, J. J. Morse, aos quais já nos referimos, mrs. Event, o reverendo Staiton Moses, mrs. Mary M. Hardy, miss Showers e inúmeros outros de menor fama.

Experiências com Daniel Dunglas Home

As experiências feitas com Daniel Dunglas Home parecem as mais bem controladas das cinco principais séries. Foram relatadas no The Quarterly Journal of Science, a partir de 1871, mais tarde enfeixadas num volume sob o título Researches in the Phenomena of Spiritualism e publicados também nos Proceedings of the Society for Psychical Research (Vol. VI, 1889-90, pp. 98-127).
Tais experiências constaram de diversos fenómenos de efeitos físicos, tais como movimentos de corpos pesados com contacto, mas sem esforço mecânico por parte do médium. Para controlar e medir esses fenómenos, Crookes construiu e montou aparelhos dotados de alavancas e dinamómetros, bem como registadores gráficos operados mecanicamente. Dentro desta categoria de fenómenos, destaca-se um deles pelo inusitado. Trata-se de um acordeão que era tocado, tendo apenas uma de suas extremidades presa entre os dedos da mão do médium. A outra extremidade contendo as teclas, ficava dependurada. O instrumento, assim suspenso dentro de uma gaiola de madeira e arame, era misteriosamente tocado e, inclusive, as suas teclas eram accionadas por suposta mão invisível.
Foram investigados os fenómenos de percussão e outros ruídos surgidos sob a acção do médium. Objectos pesados situados a determinada distância do médium eram movimentados ostensivamente. Assim, mesas e cadeiras elevavam-se do chão por si sós. Todos esses fenómenos, em sua maioria, ocorriam à luz clara, permitindo absoluto controlo.
O médium D. D. Home é famoso também pelas suas levitações. Diz Crookes: «Há pelo menos 100 casos bem verificados de elevação do sr. Home, produzidos em presença de muitas pessoas diferentes; e ouvi mesmo da boca de 3 testemunhas: o conde de Dunraven, lord Lyndsay e o capitão C. Wynne, a narração dos casos mais notáveis desse género acompanhados dos menores incidentes.» (Crookes, W. Fatos Espíritas, Rio: FEB, 1971, pp. 36 e 37).
Inúmeros outros fenómenos extraordinários foram reportados por Crookes. Entre eles destacam-se os efeitos luminosos. Eis alguns:
«Em plena luz, vi uma nuvem luminosa pairar sobre um heliotrópio colocado em cima de uma mesa, ao nosso lado, quebrar-lhe um galho, e trazê-lo a uma senhora, e, em algumas ocasiões, percebi uma nuvem semelhante condensar-se sob nossos olhos, tomando uma forma de mão e transportar pequenos objectos.» (Opus cit. p. 40)
Noutras ocasiões ocorreram em plena luz fenómenos de materialização parcial. Transcrevamos alguns descritos por Crookes: «Pequena mão de muito bela forma elevou-se de uma mesa da sala de jantar e deu-me uma flor; apareceu e depois desapareceu três vezes, o que me convenceu de que essa aparição era tão real quanto a minha própria mão.» (Opus cit. p. 41)
Tais membros, parcialmente materializados, eram, algumas vezes, vistos a formar-se a partir de nuvens ectoplásmicas.
«Algumas vezes, é preciso dizer, ofereciam antes a aparência de nuvem vaporosa condensada em parte, sob a forma de mão.» (Opus cit. p. 41)
Tais mãos, quando tocadas, davam a sensação ora de frias como de gelo, ora de quentes e vivas, chegando a cumprimentar com firme aperto de mão o investigador. Crookes, certa ocasião, reteve uma dessas mãos, resolvido a não a deixar escapar. Entretanto, ocorreu facto singular: em vez de fazer qualquer esforço para libertar-se, a mão materializada simplesmente se desmaterializou, parecendo dissolver-se em vapor!
Entre as pessoas convidadas por William Crookes para assistirem e testemunharem tais fenómenos, contavam-se as seguintes: o seu assistente químico, Williams; seu irmão Walter; o eminente físico e astrónomo, ex-presidente da Royal Society, sir William Huggins, e o jurisconsulto Sarjeant Cox.
Foram, também, convidados para participarem do grupo de observadores os secretários da Royal Society. Entretanto recusaram o convite. Não quiseram investigar pessoalmente os factos.
Familiares de Crookes também assistiram às sessões, durante as quais os grandes sensitivos e agentes paranormais eram por ele observados e estudados.

A reacção

Os relatórios de William Crookes a respeito da «força psíquica» por ele verificada de maneira inequívoca, assim como os relatos dos demais fenómenos que, de certa forma, davam apoio às teorias espiritualistas, provocaram tremenda decepção entre aqueles que esperavam justamente o contrário. Crookes, ao que parece, já contava com esse tipo de reacção. Em 20 de Junho de 1871, ele escrevia, após ter enviado primeiro um relatório à Royal Society, cinco dias antes: «Considero ser meu dever enviar primeiro à Royal Society, porque assim fazendo, eu deliberadamente lanço o peso de minha reputação científica em apoio à verdade daquilo que envio».
Em Julho de 1871, Crookes publicou um relato sobre a famosa série de testes com D. D. Home e também com Kate Fox, no Quarterly Journal of Science, sob o título: «Experimental Investigation of a New Force». Em Outubro do mesmo ano e no mesmo periódico, ele publicou o artigo «Some Further Experiments on Psychic Force», com uma explicação de sua abordagem à Royal Society.
No próprio mês de Outubro daquele ano, estourou a reacção pública: um violento ataque anónimo surgiu na Quarterly Review. O anonimato não funcionou, pois logo se soube que sua origem era o oficial de registo da London University, o conhecido biólogo Dr. W. B. Carpenter, membro da Royal Society.
Em Dezembro daquele ano, William Crookes publicou, no Quarterly Journal of Science, o artigo «Psychic Force and Modern Spiritualism a Reply to the Quarterly Review». Era a resposta ao artigo de Carpenter, desmascarando-o e refutando ponto por ponto os seus ataques.
O jornal Echo, de 31 de Outubro de 1871, publicou uma carta anónima a ele enviada e assinada «B». Nesta carta o autor pôs em forma definitiva alguns dos rumores contra Crookes, que se haviam desencadeado depois do artigo de Carpenter. O anónimo «B» referia-se a informações e críticas de um tal «Mr. J», a quem ele atribuía autoridade para julgar Crookes. Este logo descobriu o covarde autor da carta anónima, um certo John Spiiler, que fora, numa ocasião admitido a assistir duas sessões com D. D. Home na residência de Sarjeant Cox. Crookes achava-se presente no momento, mas não havia, ainda, iniciado as suas pesquisas sistemáticas sobre mediunidade de D. D. Home.
A esta e todas as demais críticas, Crookes deu a devida resposta, quando reconheceu alguma importância nas mesmas.
Vamos passar à outra fase das actividades de Crookes. Escolheremos apenas uma delas, embora todas as demais tenham sido dignas de nota. vamos tratar das ectoplasmias de Katie King, obtidas pela mediunidade de Florence Cook.

Florence Eliza Cook (1856-1904)

A mediunidade de Florence Cook manifestou-se desde a sua infância, quando afirmava ver espíritos e ouvir vozes. Tais factos eram levados pouco a sério pelos seus familiares, que os atribuíam a produtos da sua imaginação infantil. Em 1871, aos 15 anos de idade, a sua mediunidade começou a aflorar mais intensamente e foi-se desenvolvendo com o correr do tempo.
Em 22 de Abril de 1872, numa sessão na qual se achavam presentes a mãe, os irmãos e uma irmã da médium, além da criada Mary, materializou-se o espírito Katie King, parcialmente e pela primeira vez. Numa carta dirigida ao director do periódico The Spiritualist, de Londres, Harrison, a própria Florence Cook relatou o ocorrido, pois manteve-se em vigília durante a manifestação: «Katie mostrou-se na abertura das cortinas; os seus lábios moveram-se; por fim, falou durante alguns minutos com a minha mãe. Todos puderam acompanhar os movimentos dos seus lábios.»
«Como eu não a via muito bem de onde me encontrava, pedi-lhe que se voltasse para mim. Ela atendeu e virou-se. "Com muito gosto desejo atender-te", disse. Então pude observar que a parte superior de seu corpo estava formada somente até ao busto; o resto de seu corpo era uma nebulosidade vagamente luminosa.» (Rodrigues, W. L. V. - Katie King, Matão: O Clarim, 1975, p.32).
Posteriormente, Florence Cook passou a entrar em transe profundo. Daí em diante, Katie King foi adquirindo mais consistência e autonomia, chegando a sair inteiramente da cabina escura e a passear livremente entre os assistentes, mostrando-se à luz clara.
Em Dezembro de 1873, durante uma sessão em que se achavam entre os convidados, o conde e a condessa de Caithness, o conde de Medina Pomar e um certo W. Volckman, Katie King mostrou-se tão nitidamente que despertou suspeitas neste último. Volckman, subitamente, avançou contra Katie King, agarrando uma de suas mãos e prendendo-a pela cintura com o outro braço! Estabeleceu-se uma luta, na qual dois amigos da médium tentaram socorrer Katie King. O advogado Henry Dumphy conta que ela pareceu perder os pés e as pernas, e fazendo um movimento semelhante ao de uma foca na água, escapuliu sem deixar traços de sua existência corporal, tendo desaparecido inclusive os véus brancos em que se envolvia. Segundo Volckman, ela libertou-se violentamente. Mas o facto incontestável é que uns cinco minutos mais tarde, quando se restabeleceu a calma e a cabina foi aberta, ali foi encontrada Florence Cook perfeitamente composta em seu vestido preto e calçada com suas botas. As amarras que a prendiam estavam intactas, assim como o lacre impresso com o sinete do anel do conde de Caithness, tal como no início da sessão. Foi-lhe dada uma busca, mas não se descobriu qualquer vestígio de vestes ou véus brancos. Como resultado da brutal prova, a médium adoeceu. (Fodor, N. - Encyclopaedia of Psychic Science, U.S.A.: University Books, 1974, p. 62).
Logo após este incidente, Florence Cook procurou sir William Crookes e solicitou-lhe que investigasse a sua mediunidade.
Naquela ocasião, devido a certos fenómenos que ocorriam numa escola onde Florence Cook tinha um emprego, e também em virtude da repercussão na imprensa, dos factos que com ela ocorriam, a directora demitiu-a de sua colocação. Desse modo, Florence Cook viu-se desempregada. Um senhor que se interessava vivamente pelas faculdades da srta. Cook, ofereceu-lhe uma pensão permanente com a condição de ela manter-se em actividade mediúnica exclusivamente para fins de pesquisa científica. A referida pensão duraria enquanto Florence se mantivesse solteira. O nome desse generoso protector era Charles Blackburn. Quando ocorreu o incidente com o desastrado Valckman, Charles Blackburn excluiu Florence da assistência pública e confiou-a exclusivamente aos cuidados de William Crookes, para investigações rigorosamente científicas.

Katie King

Katie King era o pseudónimo adoptado pelo espírito de Annie Owen Morgan. Ela era o «espírito guia» de Florence Cook. Dizia ter sido filha de Henry Owen Morgan, famoso pirata que foi protegido por Charles II e feito governador da Jamaica. O espírito de H. O. Morgan adoptou o pseudónimo de John King, tendo-se manifestado, pela primeira vez, em 1850, com os irmãos Davenport.
Katie King colaborou de maneira notável com William Crookes. Vamos transcrever os relatos de algumas sessões controladas por Crookes e reportadas pessoalmente por ele.

No início Katie King assemelhava-se a Florence Cook

Este episódio, do qual extraímos o texto que se segue, mostra-nos um facto de grande importância: quando o médium não está em transe suficientemente profundo, pode ocorrer uma ectoplasmia incompleta. Neste caso, o duplo astral da médium arrasta consigo o ectoplasma. O espírito, então, se sobrepõe a este conjunto, surgindo daí uma forma híbrida, com a aparência do médium. A sessão realizava-se na casa do sr. Luxmore: «Pouco depois, a forma de Katie apareceu ao lado da cortina, dizendo que o fazia porque havia perigo em se afastar do seu médium, visto que este não se achava bem e não poderia ser lançado em sono suficientemente profundo».
«Eu — William Crookes — estava colocado a alguns pés da cortina, atrás da qual a srta. Cook se achava sentada, tocando-a quase, e podia frequentemente ouvir os seus gemidos e suspiros, como se ela sofresse. Esse mal-estar continuou por intervalos, durante toda a sessão, e uma vez, quando a forma de Katie estava diante de mim, na sala, ouvi distintamente o som de um suspiro doloroso, idêntico aos que a srta. Cook tinha feito ouvir, por intervalos, durante todo o tempo da sessão e que vinha de trás da cortina onde ela devia estar sentada.»
«Confesso que a figura era surpreendente na sua aparência de vida e de realidade, e tanto quanto eu podia ver, à luz um pouco fraca, os seus traços assemelhavam-se aos da srta. Cook; mas, entretanto, a prova positiva, dada por um dos meus sentidos, pois que o suspiro vinha da srta. Cook, no gabinete, enquanto a figura estava fora dele, esta prova é muito forte para ser destruída por simples suposição do contrário, mesmo bem sustentada.»
Posteriormente sir William Crookes organizou uma série de sessões no seu laboratório particular, situado em sua própria residência. Foi aí que se deram as melhores ectoplasmias de Katie King, durante as quais, inúmeras vezes, puderam ser vistas e até fotografadas, ao mesmo tempo, a materialização e a médium.

Crookes pôde ver simultaneamente Katie King e Florence Cook

Esta sessão ocorreu em 12 de Março de 1874, na casa de Crookes: «Voltando ao meu posto de observação, Katie apareceu de novo e disse que pensava poder mostrar-se a mim ao mesmo tempo que a sua médium. Abaixou-se o gás e ela pediu-me a lâmpada florescente. Depois de se ter mostrado à claridade, durante alguns segundos, restituiu-ma, dizendo: "Agora entre e venha ver a minha médium". Acompanhei-a de perto à minha biblioteca e, à claridade da lâmpada, vi a srta. Cook estendida no canapé, exactamente como eu a tinha deixado; olhei em torno de mim para ver Katie, porém ela havia desaparecido...».
Em outra sessão Crookes conseguiu ver, durante um largo tempo, simultaneamente a médium e a entidade materializada. Esta sessão ocorreu em Hackney. Nesta ocasião, Crookes obteve permissão de Katie King para enlaçar sua cintura e abraçá-la, repetindo sem incidentes a desastrada experiência de W. Volckman. Crookes, em artigo publicado no The Spiritualist, disse: «O sr. Volckman ficará satisfeito ao saber que posso corroborar a sua asserção, de que o "fantasma" (que afinal não fez nenhuma resistência) era um ser tão material quanto a própria srta. Cook.»
Prosseguindo em seu artigo, Crookes relatou o seguinte episódio, ocorrido nessa mesma sessão: «Katie, disse então que dessa vez julgava-se capaz de se mostrar ao mesmo tempo que a srta. Cook. Abaixei o gás, e em seguida, com a minha lâmpada florescente penetrei o aposento que servia de gabinete.»
«Mas, eu tinha pedido previamente a um dos meus amigos, que é hábil estenógrafo, para anotar toda a observação que eu fizesse, enquanto estivesse no gabinete, porque bem conhecia eu a importância que se liga às primeiras impressões, e não queria confiar à minha memória mais do que fosse necessário: as suas notas acham-se neste momento diante de mim».
«Entrei no aposento com precaução; estava escuro e foi pelo tacto que procurei a srta. Cook; encontrei-a de cócoras no soalho.»
«Ajoelhando-me deixei o ar entra na lâmpada e, à sua claridade, vi essa moça vestida de veludo preto, como se achava no começo da sessão, e com a toda a aparência de estar completamente insensível. Não se moveu quando lhe tomei a mão; conservei a lâmpada muito perto do seu rosto, mas continuou a respirar tranquilamente.»
«Elevando a lâmpada, olhei em torno de mim e vi Katie, que se achava em pé, muito perto da srta. Cook e por trás dela. Katie estava vestida com roupa branca, flutuante, como já a tínhamos visto durante a sessão. Segurando uma das mãos da srta. Cook na minha e ajoelhando-me ainda, elevei e abaixei a lâmpada, tanto para alumiar a figura inteira de Katie, como para plenamente convencer-me de que eu via, sem a menor dúvida, a verdadeira Katie, que tinha apertado nos meus braços alguns minutos antes, e não o fantasma de um cérebro doentio. Ela não falou, mas moveu a cabeça, em sinal de reconhecimento. Três vezes examinei cuidadosamente a srta. Cook, de cócoras, diante de mim, para ter a certeza de que a mão que eu segurava era de facto a de uma mulher viva, e três vezes voltei a lâmpada para Katie, a fim de examinar com segurança e atenção, até não ter a menor dúvida de que ela estava diante de mim. por fim, a srta. Cook fez um ligeiro movimento e imediatamente Katie deu-me um sinal para que me fosse embora. Retirei-me, para outra parte do gabinete e deixei então de ver Katie, mas só abandonei o aposento depois que a Srta. Cook acordou e que dois dos assistentes entrassem com luz.» (Crookes, W. - Fatos Espíritas, trad. de Oscar D’Argonnel, Rio: FEB, 1971, pp.69-73)
O testemunho de Crookes
Apesar de cerrado ataque de que foi alvo, devido aos seus relatórios acerca dos fenómenos que observou e investigou durante vários anos, sir William Crookes nem uma só vez titubeou em afirmar sua convicção na realidade dos factos por ele pesquisados.
Diante da British Association at Bristol, na sua palestra presidencial, em 1989, ele declarou: «Trinta anos se passaram desde que eu publiquei um relatório de experiências, visando demonstrar que além do nosso conhecimento científico existe uma Força exercida por inteligência diferente da inteligência ordinária, comum aos mortais. Não tenho nada a retractar. Mantenho-me fiel às minhas afirmações já publicadas. Na realidade, eu poderia acrescentar muito mais, além disso».
E numa entrevista na The International Psychic Gazette, em 1917, ele repetiu:
«Nunca tive jamais qualquer ocasião para modificar minhas ideias a respeito. Estou perfeitamente satisfeito com o que eu disse nos primeiros dias. É absolutamente verdadeiro que uma conexão foi estabelecida entre este mundo e o outro.» (Fodor, N. - Encyclopaedia of Psychic Science, U.S.A.: University Books, 1974, p.70).
William Crookes foi um marco inicial do período científico da história da parapsicologia.
________________
(**) Nota: sobre a palavra inglesa Spiritualism: A National Spiritualist Association of América definiu o Spiritualism da seguinte forma: «É a Ciência, Filosofia e Religião da vida contínua, baseada sobre o facto demonstrado da comunicação, por meio da mediunidade, com aqueles que vivem no Mundo Espiritual... etc.». Dada a sua semelhança com o Espiritismo, passaremos, doravante, a traduzir «Spiritualism» pela palavra Espiritismo, sem contudo significar isso uma total identificação entre os dois sistemas.

Fonte http://www.espirito.org.br/portal/artigos/fep/william-crookes.html

"Mensagem" dos Cristais de Água: Cientificamente NÃO Comprovado


Alexandre Fontes da Fonseca
Instituto de Física da Universidade de São Paulo, São Paulo, S.P.
Um pesquisador japonês, Dr. Masaru Emoto, afirma ter provado que pensamentos e sentimentos interferem na realidade física. Ele diz que a estrutura cristalina da água é afetada pela “energia de vibração” de pensamentos, atos, e até mesmo de palavras e músicas [1,2].
Segundo Kardec (em nota de rodapé relativa à resposta dos espíritos à questão número 33 de O Livro dos Espíritos [3]), uma ação magnética dirigida pela vontade faz com que uma determinada porção de água se torne fluidificada. Nesse processo, a água adquire propriedades diferentes das que possui em seu estado normal, chegando ao ponto de servir como medicamento no tratamento de várias enfermidades. Portanto, não está em questão a nossa certeza, como espíritas, de que a água absorve os fluidos espirituais ambientes ou direcionados a ela. Questionamos a afirmativa de que “o fenômeno de absorção de fluidos pela água foi provado cientificamente”. Isso não corresponde à verdade conforme veremos adiante. Os seus defensores baseiam-se no trabalho de pesquisa do Dr. Masaru Emoto [1] que tem chamado a atenção de muitos irmãos nossos, no movimento espírita, chegando a ter destaque na “homepage” de grupos espíritas de grande prestígio.
Segundo Emoto [1], ao emitirmos pensamentos e sentimentos para uma amostra de água; ao submetermos uma porção de água a um tipo de vibração sonora ou música; ou, ainda, se uma etiqueta com uma determinada palavra for colada num frasco contendo água, então ela absorverá um tipo de “energia” associada ao valor, moral, do pensamento, som ou palavra que foi submetida a ela. Isso seria verificado através do processo de cristalização onde as moléculas de água, ao passarem do estado líquido para o estado sólido, formam estruturas tridimensionais bem definidas, como na formação dos minúsculos flocos de neve. Assim, amostras submetidas a pensamentos, sons ou palavras harmoniosas, formam figuras cristalinas simétricas e muito bonitas (veja “homepage” da referência [2]). Em caso contrário, obtém-se formas amorfas, sem nenhuma regularidade, possuindo um aspecto desagradável ao olhar [2].
Não somos nós os únicos a questionar a cientificidade dessa pesquisa. Citamos uma referência que critica esses resultados. Se trata de uma “homepage” intitulada “Lendas e Pseudociência” [4]. Os seus autores afirmam que “os experimentos do Dr. Emoto não tem respaldo na ciência nem na racionalidade, mas no misticismo. Eles pertencem àquilo que se chama de pseudociência ou não-ciência.” Em outras palavras, isso quer dizer que a pesquisa do Dr. Emoto não satisfaz os caracteres de universalidade e reprodutibilidade comuns aos fenômenos científicos. Além disso, eles alertam que algumas pessoas, mal informadas, podem ser induzidas a “rotular, com palavras amáveis, água de má qualidade e passar a usá-la na cozinha, para beber ...
[4]. Apesar do Dr. Emoto não sugerir essa aplicação, não há como garantir que isso não possa ocorrer.
Para que não fique dúvida sobre a precipitação em considerar cientificamente divulgado e comprovado os resultados do Dr. Emoto, enviamos-lhe um e-mail perguntando se foi publicado algum artigo científico, sobre o assunto, em revista científica internacional. Sua secretária respondeu ao nosso e-mail de forma muito amável e respeitosa, concordando sobre a importância de uma publicação realmente científica e afirmou que, de fato, o Dr. Emoto ainda não houvera feito uma tal publicação. Por essa razão, não podemos considerar que os resultados sobre a relação entre os cristais de água e os sentimentos e pensamentos foram comprovados cientificamente.
De modo a esclarecer o leitor leigo em ciência, uma pesquisa que envolva assunto ligado a qualquer disciplina científica só pode ser considerada como cientificamente comprovada quando a comunidade científica tiver reproduzido a experiência, obtendo os mesmos resultados, e analisado, de forma crítica, todos os métodos e argumentos utilizados. Para isso, tais resultados precisam ser publicados nos periódicos científicos para que a comunidade científica tome conhecimento deles e possa lê-los, avaliá-los e reproduzi-los, de acordo com o método científico. Além disso, antes de ser publicado em uma revista científica, um artigo passa pela análise de um parecerista que faz uma primeira análise crítica. É por essa razão que uma publicação em revista científica é considerada um verdadeiro primeiro passo para obter-se uma comprovação científica de qualquer pesquisa*.
Uma outra ordem de argumentos cabe aqui. Podemos e devemos aplicar o critério do bom-senso aos resultados das pesquisas sobre a água. Sabemos, como espíritas, que a água absorve fluidos espirituais. Mas como uma palavra, escrita em um rótulo, transferiria fluidos para a água dentro do frasco? Imaginem o seguinte exemplo: considere a palavra MORTE. Para alguns ela é algo terrível, que produz sentimentos de medo, insufla idéias de horror, etc.
Em certas culturas, porém, a palavra MORTE tem outro significado. Ela significa libertação, volta para “casa” e, de fato, com o Espiritismo, entendemos que a morte é a libertação do Espírito dos laços materiais; a morte é o retorno à Pátria Espiritual; o reencontro com os entes queridos.
Considere, também, o exemplo do nome HITLER(utilizado por Emoto [1]). Para a maioria das pessoas, esse nome lembra os atos terríveis praticados contra seres humanos. Porém, existem várias pessoas, hoje, que têm a palavra Hitler como nome ou sobrenome e, nem por isso, elas são ruins. Neste ponto, vemos que está ocorrendo uma inversão de valores: a forma está sendo tomada pelo fundo; o efeito pela causa. Isto pois, as características de uma pessoa não são determinadas pelo nome que ela recebe ao nascer e, sim, pelas virtudes e imperfeições que o seu Espírito tenha, isto é, seu estado evolutivo. Assim, é bem possível que exista uma pessoa de nome Hitler que seja bondosa, amada e querida por familiares e amigos. Portanto, o nome HITLER escrito no rótulo de uma amostra de água não terá efeito sobre a sua cristalização porque esse conjunto de letras não tem valor se uma mente não lê-las. Uma “vibração” só existirá quando uma pessoa interpretar a palavra e “vibrar” de acordo com os sentimentos dessa interpretação. Se a mãe de um jovem chamado Hitler ler o nome HITLER, não há dúvidas de que ela vai vibrar amor. Assim, a conclusão de que uma palavra estampada num rótulo tem o poder de influenciar as moléculas de água é ilógica segundo os princípios espíritas e isso pode ser usado pela crítica.
Em conclusão, a afirmativa de que os sentimentos e pensamentos (“vibrações”) afetam a estrutura cristalina da água não pode ser considerada como cientificamente comprovada a partir, apenas, dos livros do Dr. Emoto. Isso não significa que a água não possa absorver fluidos espirituais. Apenas não se pode considerar que a Ciência comprovou o fenômeno. O movimento espírita deve, portanto, receber essas notícias com bastante prevenção e prudência. Respeitamos essas pesquisas e quem as divulga mas aguardamos maiores comprovações antes de sairmos por aí anunciando os seus resultados. Quanto ao Dr. Masaru Emoto, respeitamos seus nobres objetivos, principalmente na área ecológica, em luta pela preservação da água potável no planeta. Porém, suas pesquisas precisam ser publicadas em revistas científicas para que elas possam ser discutidas e reproduzidas pelos cientistas do mundo inteiro e para que elas possam receber o respeito científico que elas merecem.
Uma ressalva deve ser feita. Existem outras pesquisas sobre os efeitos da fluidificação da água sendo realizadas tanto no Brasil quanto no exterior. Porém não temos notícias de publicações em revistas científicas internacionais e indexadas. Existem divulgações em “homepages”, como o artigo da referência [5], que, infelizmente, apesar de apresentar uma interessante metodologia, não pode ser considerado como científicamente comprovado, pelas mesmas razões acima expostas. Porém, pretendemos fazer uma pesquisa mais ampla na literatura espírita e espiritualista em busca de mais referências.
Por outro lado, existem pesquisas puramente materiais muito interessantes sobre a água [6]. Quem quer que deseje buscar comprovações científicas para os efeitos fluidicos e espirituais sobre a água deve levar em conta os trabalhos de pesquisa como os das referências [5,6] como fonte de informação e sugestão de modelo de trabalho.
Nunca é demais repetir as palavras do espírito de Erasto (Revista Espírita [7]): é preferível “rejeitar 10 verdades do que aceitar uma só mentira”. Notem que é muito mais difícil corrigir uma mentira depois de aceita do que vir a aceitar uma verdade previamente negada.
PUBLICADO NO JORNAL ALAVANCA 489 DE JANEIRO DE 2004, PÁGINA 3.
Referências
[1] M. Emoto, The Message from Water, Vol. I, Ed. Hado Kyoiku Sha, (1999).
[3] A. Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB, 76a. Edição (1995).
[5] M. M. C. Oliveira e J. B. Filho, http://members.tripod.com/bioenergia0/agua01.htm
[6] M. E. G. Porto, Dissertação de Mestrado, UNICAMP, (1998).
[7] A. Kardec, Revista Espírita 8, p.257, (1861).
Nota de rodapé
* - As revistas espíritas teriam muito a ganhar realizando a análise não só doutrinária mas, também, técnica dos artigos submetidos para publicação. Isso poderia ser feito através de pareceristas especialistas na subárea relacionada ao tema do artigo.

Comentários – Concordamos com o autor e acrescentando que o Dr. Masaru Emoto nasceu em Yokohama, Japão, em 1943 e morreu em 2014 na cidade de Tóquio. David Luca
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quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Somos Espíritos imortais



Pai celestial
Na proximidade de mais um dia que se aproxima , enviamos vibrações de paz para Todos e tendo certeza que somos herdeiros do universo infinito por isso aguardamos a colheita sem pressa.
Assim como as rosas possuem perfume acompanhadas dos espinhos.
Temos também virtudes junto com defeitos .Mas como Somos Filhos de Deus e temos certeza que podemos construir.Pedimos pela Paz. Edmar Barros

Escolhas


Edmar Barros

Porque não é boa a árvore a que dá maus frutos, nem má árvore a que dá bons frutos. Porquanto cada árvore é conhecida pelo seu fruto. Porque nem os homens colhem figos dos espinheiros, nem dos abrolhos vindimam uvas. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do mau tesouro tira o mal. Porque, do que está cheio o coração, disso é que fala a boca. (Lucas, VI: 43-45).

Com este ensinamento podemos escolher melhor: 
Amigos, jornais, livros, revistas, rádios, canais de televisão, filmes, etc.

Exemplo de boa escolha:

MINHA RELIGIÃO É A DO AMOR, E A MINHA LINGUAGEM É A DO CORAÇÃO!
(IRMÃ DULCE).
TUDO O QUE FAZEMOS É APENAS UMA GOTA D´ ÁGUA NO OCEANO DA NOSSA VIDA... (IRMÃ DULCE).
 




Companheiros Perfeitos



Juarez Barbosa Perissé

    Quando Márcia encontrou a Doutrina Espírita sentiu-se renovada. Ali estava, pensou ela, a resposta para todas as suas perguntas, as dúvidas que haviam lhe acompanhado durante anos não resistiam à lógica simples das respostas de “O Livro dos Espíritos”.
    Passou a frequentar a Casa Espírita desejando recuperar o tempo que considerava perdido, e como era uma pessoa muito dinâmica, logo passou a integrar o grupo de trabalhadores daquela pequena Casa. Um grupo pequeno porque sempre são escassos os trabalhadores.
     A princípio via em seus companheiros, modelos de perfeição. Com o tempo, porém, começou a perceber que um deles, o Antônio “livreiro”, irritava-se profundamente por causas sem importância. Uma outra médium, D. conceição, participante assídua das reuniões de desobsessão, trabalhadora da Casa desde sua fundação há 20 anos, vivia em conflito com o Sr. Amadeu, responsável pelo Departamento de Patrimônio. Ora ela criava dificuldades para o desenvolvimento do trabalho do dirigente, ora ele era quem estabelecia regras estranhas de difícil compreensão. E lá ia a D. Conceição falar dele para quem quisesse ouvir.
    Um a um, os participantes do grupo iam desfilando em sua mente e cada um apresentava determinado defeito. Márcia verificou que a harmonia perfeita que acreditava existir naquele grupo não era tão generalizada como acreditou no início. E ao pensar assim, começou a ser procurada continuamente por Dirceu, antigo freqüentador da Casa que sempre lhe trazia “novidades sobre os trabalhos e os trabalhadores. Era uma pessoa que deixava as salas desorganizadas, ou um orador que não conseguia prender a atenção da assistência que começava a crescer nos salões daquela Casa, ou uma pessoa que vinha em busca de auxílio e que não era bem tratada. Enfim, sempre uma reclamação acerca dos trabalhos lá desenvolvidos. Tanto ouviu, tanto falou, que Márcia tornou-se uma critica severa de tudo o que envolvia. O entusiasmo inicial deu lugar a uma presença azeda, sempre pronta a observar o erro. Afinal, pensava: “Como pessoas que participam do trabalho há tantos anos, podem cometer tantos erros?”
    E assim seguiu, em meio as suas dúvidas questionando mais do que trabalhando se constituindo mais num verme roedor do que numa abelha laboriosa. Em certa tarde morna de primavera, passando diante da Casa, viu o Sr. Cláudio, presidente da instituição, que se encontrava varrendo o quintal, e que a recebeu com carinho. E ela falou, falou muito, eram informações verdadeiras e falsas, antigas e recentes, não importava, ela queria dividir tudo aquilo que passou a conhecer e que considerava a mais pura verdade. Os minutos que passavam e viraram uma hora. Quando ela parou, esperava uma expressão de surpresa do “calejado” presidente, ou, ao menos, um comentário de encorajamento às suas reclamações, mas nada disso aconteceu. Ele, já acostumado a tudo isso, tendo trabalhado com grupos humanos desde há muitos anos, tendo atravessado muitas crises, simplesmente sorria compreensivo.
    Após alguns segundos que pareceram séculos para a moça, ele disse: “Eu entendo a sua aflição porque já a senti. Durante anos busquei a perfeição nos companheiros de trabalho, foram anos de conflitos e aflições. Ora a decepção me arrasava o coração, ora o desânimo paralisava as minhas mãos, e, quando errava numa avaliação, vinha o remorso abrasar a minha mente. Cheguei ao ponto de não mais perceber as virtudes das pessoas porque seus erros, na minha visão, eram gigantescos. Frequentei vários grupos espíritas nesta busca. Nunca pensei em me afastar da Doutrina Espírita porque eu a percebia, no imo de minha alma, como a resposta às aflições humanas. Decidi, então, há 20 anos, fundar este pequeno grupo. Deus, nossos amigos espirituais, e, em particular, o bondoso Dias da Cruz abençoaram o esforço, e o grupinho começou a crescer. Eu pensava em formar um grupo perfeito, de acordo com os meus moldes, mas as dificuldades internas começaram a surgir, minando os trabalhos que surgiram tão promissores.
    Um dia, profundamente entristecido, após verificar que mais uma das nossas atividades corria riscos de ser suspensa fui até o fundo do salão de palestras e orei, orei tão profundamente que me senti envolvido por um doce torpor, e uma vez ressoou dentro de mim: “Cláudio, por quê te lamentas tanto? O que esperas das pessoas que trabalham contigo? São todos candidatos ao Bem, não são bons ainda, não venceram a batalha. Tu podes e deves ajudá-los, mas não basta apontar erros, tocar em suas feridas, você tem que estimular as virtudes, ressaltar os seus acertos. Não se consegue desenvolver uma horta que vai alimentar a muitas pessoas, sufocando as tenras plantinhas, sob a alegação de que se deseja exterminar as ervas daninhas. Pensa nisso! Mesmo Jesus, nosso Mestre Amorável, não contou com um grupo perfeito na sua passagem pela Terra...”.
    “O torpor foi passando e me vi só. Olhei para a grande mesa lá na frente, andei pelas dependências da Casa e passei a ver, no Centro, uma horta a qual tantas vezes sufoquei boas disposições de trabalho, na minha ânsia de perfeição. Questionei que tipo de agricultor era eu, que preocupado com as ervas daninhas, tinha perdido a capacidade de estimular o crescimento das tenras mudinhas que via surgir naquela amada horta, precisando de ajuda para crescer. Mudei, então, a minha postura diante dos conflitos, passei a ouvir e ver as pessoas procurando seu lado bom, os pontos positivos da situação. Desta forma, vi os trabalhos florescerem, e muitas pessoas serem ajudadas, como você foi. E claro que dificuldades surgem, mas a essência da Doutrina, esta nunca poderá ser violada e estamos atentos para isso”. E olhando dentro dos olhos da dinâmica trabalhadora, disse: “Márcia, eu aprendi naquele momento que devo buscar construir a perfeição dentro de mim e não nas pessoas que me envolve. E quanto mais eu luto neste sentido, mais eu consigo compreender as dificuldades alheias e posso assim ajudar. Não podemos nunca confundir a Doutrina Espírita com as pessoas que freqüentam ou trabalham nas Casas Espíritas”.
    A moça ficou ainda alguns minutos absorta em seus pensamentos após a despedida do presidente que iria dirigir a reunião da noite. Muitas imagens passavam, muitas estórias, e ela foi se dando conta que o velho presidente estava repleto de razão. Mais surpresa ficou quando, abrindo seu exemplar de o livro dos Espíritos ao acaso, leu na nota explicativa da pergunta 918: “Verdadeiramente, homem de bem é o que pratica lei de justiça, amor e caridade, na sua maior pureza. Se interrogar a própria consciência sobre os atos que praticou perguntará se não transgrediu essa lei, se não fez mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém tem motivos para dele se queixar, enfim se fez aos outros o que desejara que lhe fizessem”.

    Fechou o livro e foi caminhando lentamente para casa pensando em como é facial nos perdermos na estrada, se não nos mantivermos vigilantes. Levantou os olhos para o céu, e numa prece muda agradeceu a Deus a oportunidade de poder trabalhar. Dali em diante, toda vez que era procurada por alguém trazendo alguma “novidade”, buscava apontar um ângulo positivo do assunto, e muitas vezes sorria, lembrando aquela tarde morna de primavera diante do experiente companheiro de trabalho.           
 Fonte: Correio Fraterno do ABC, outubro de 1994, pág. 06


Comentário-Ótimo artigo que ilustra a necessidade de no trabalho de Jesus não buscar um Centro com irmãos perfeitos.Pois somos espíritos imortais em processo  da reencarnação graças a bondade de Deus. Que nos dá oportunidades para atingir a felicidade plena.
David Luca